quarta-feira, 30 de maio de 2012

Lampião da Esquina

Por Jean Tranjan e Ana Karolyne

A ideia pro jornal “O lampião da Esquina” surgiu em uma reunião entre jornalistas homossexuais promovida pelo advogado Antônio Mascarenhas que foi feita na casa de Darcy Penteado e contou também com a presença de Aguinaldo Silva, João Silvério Trevisan, Peter Fry e o professor Jean-Calude Bernardet.

A proposta de montar um jornal voltado para o público gay já começou causando polêmica nessa mesma reunião entre os 11 jornalistas presentes. Na criação do jornal foi decidido não só abordar temas gays, mas também assuntos polêmicos relacionados a grupos minoritários, como o feminismo. Eles tinham um enfoque bastante político na abordagem ao tema da homossexualidade, mas sem perder o humor, o vocabulário a ironia e o sarcasmo.

O jornal era editado em impresso no Rio de Janeiro, mas a equipe contava também com membros que moravam em São Paulo, assim, uma vez por mês eles se reuniam para discutir as pautas. De Abril de 1978 a Junho de 1981, foram publicadas 36 edições que traziam reportagens, entrevistas, ensaios, críticas e notícias sobre cultura, seção de cartas  colunas de opinião e humor.

O jornal usava termos vetados da mídia tradicional como “bicha”, “lésbica” e “viado”. Diversas personalidades da vida cultura foram entrevistadas pelo jornal, como Clodovil, Antônio Calmon, Ney Matogrosso, Leci Brandão e Fernando Gabeira.

Criticavam também a esquerda e uma de suas campanhas provocativas visavam direto esse grupo: “Não fique aí parado esperando a revolução. Tenha um orgasmo agora!!! Leia e assine Lampião” e “Alô, alô classe operária: e o paraíso, nada? Lula fala de greves, bonecas e feministas: chumbo grosso!” criticando a homofobia da esquerda e do movimento sindical brasileiro.

Foi o primeiro jornal gay de circulação nacional, vendido em várias bancas de jornal pelo país e a tiragem era alta para um jornal alternativo, entre 10 e 20 mil exemplares. Por não quase existir publicidade gay naquele período, boa parte da produção encalhava.

Os militares tentaram diversas sanções para eliminar o jornal que sofreu também boicotes de donos de bancas e atentados de grupos paramilitares que explodiam bombas caseiras nas bancas que o vendiam. Um de seus editores chegou a ser acusado de atentado à moral e aos bons costumes e a carta que se solicitava o inquérito se referia aos editores como pessoas que sofriam “graves problemas comportamentais”.

O jornal encerrou suas atividades em 1979 em decorrência de uma cisão ideológica entre seus principais colaboradores, Aguinaldo Silva e João Silvério Trevisan. Durante os 3 anos em que foi editado, o jornal colocou em pauta a homossexualidade com base na pluralidade de opiniões, e assim ampliou o debate acerca dos direitos gays no país.

Clique aqui e leia todas as edições de "O Lampião da Esquina", digitalizadas.



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