Por Carl Werner
A Coorperativa dosJornalistas de Porto Alegre Ltda. foi fundada em 27 de agosto de 1974 no SalãoNobre da Associação Rio-Grandense de Imprensa, em Porto Alegre.
Em novembro de 1975 surge o Coojornal como um boletim interno da cooperativa, com tiragem de 3500 exemplares. Quase um ano depois, o boletim de oito páginas já se transformara em mensário de 28 páginas. O jornal, de formato tablóide, circulou entre outubro de 1976 e março de 1983. Foi o alternativo gaúcho com maior tempo de duração, se equiparando aos famosos jornais de resistência à ditadura brasileira, como O Pasquim, Movimento, Resistência e Leia. O Coojornal era expedido do RS para RJ, SP, MG e outros dez estados brasileiros, atingindo seu ápice financeiro em 1977 com cerca de 142 mil tiragens por mês e 260 pontos de venda somente em Porto Alegre.
Caracterizou-se por denunciar a repressão ditatorial, sofrendo por isso sérias intimidações do governo e de grupos de extrema-direita. Mesmo assim, somou forças com movimentos sociais e com grupos e partidos políticos de oposição na luta pela reabertura política que marcaram o período 1974-1985 no Brasil.
Na edição de julho de1977(veja a imagem ao lado), a manchete do Coojornal dizia "4682 é o número de cassados em 13 anos de revolução" e trazia uma pesquisa pioneira de Hamilton Almeida Filho sobre o impacto da ditadura em termos de expurgos e cassações. Respondendo a isso, agentes da Polícia Federal visitaram todos os anunciantes daquela edição solicitando o término dos contratos de propaganda o que resultou na perda imediata de 80% dos anunciantes. Apesar do forte impacto, o Coojornalainda conseguiu manter sua tiragem média por mais dois anos, porém a partir de1980 sofreu acentuado declínio.
Em Fevereiro de 1980, quatro integrantes da cooperativa foram presos em função de uma publicação de documentos secretos do exército que indicavam a história das ações repressivas contra Lamarca em 1970 e 1971, que culminaram em seu assassinato. (Capa de Fev.1980, com a manchete "Os relatórios do Exército sobre a Guerrilha"). A oferta dos documentos aos jornalista por parte do cabo Carlos Mar Echevarria teria sido uma armação dos militares para atacar o Coojornal. A partir desse episódio, as Forças Armadas passaram a atacar ainda mais intensivamente o Coojornal, atacando bancas que o vendiam com bombas. Em 1981 os quatro jornalistas foram presos novamente em função do mesmo processo sendo libertados seis dias depois por razões de protesto. O núcleo industrial da Coorperativa foi vendido para saldar todas as dívidas.
Nos anos em que o Coojornal atuou, tratou principalmente das seguintes áreas para fortalecimento do regime oposicionista: ditaduras latino-americanas dos anos 1960 e 1970 e suas práticas repressivas (Brasil em especial); Operação Condor; conservadorismode setores da Igreja Católica; greves, sindicalismo, cooperativismo e lutas dos trabalhadores; grande imprensa; guerrilha; imperialismo; corrupção; violência contra mulheres e crianças.
Uma análise das manchetes de capa dos números de Coojornal publicados ao longo de 1979 mostra que, de 105 núcleos de sentido identificados, associados a 31 temas reunidos em 4 grandes áreas (política, sociedade, economia e cultura), 65 (62%) corresponderam à área da política, 16 (15%) à de sociedade, 16 (15%) à de cultura e 8 (8%) à de economia. Nos temas políticos, predominaram “governos ditatoriais e direita no Brasil” (22%), “repressão à oposição no Brasil” (20%) e trabalhismo (12%). A análise apoiou-se fundamentalmente nas orientações metodológicas de Bardin (1977). Seguidos por “guerrilha e luta armada” e “Operação Condor”, (9% cada); “repressão à oposição na América Latina”, “governos ditatoriais na América Latina”, “comunismo e socialismo” e “MDB” (6%cada); e, com as menores freqüências, “ação estadunidense na América Latina” e “PT” (2% cada, equivalente a apenas 1 núcleo de sentido). Tal proporção se repete, com pequenas variações nos demais anos, caracterizando o Coojornal como um periódico predominantemente político, assumidamente de oposição, mas que procurava tratar também de temas vinculados à cultura, economia e sociedade.
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