terça-feira, 19 de junho de 2012

O Pasquim e seu fim

Por Renan Vargas Vieira

Todo grande fenômeno tem no gráfico de sua trajetória um ápice, um período de melhor êxito naquilo que se propõe a fazer. Mas além desse ápice, existe um momento em que a curva do tal gráfico começa a descer. Com o Pasquim não foi diferente.

O Pasquim viveu grandes momentos, onde a tiragem do jornal alternativo bem humorado chegou a ultrapassar os números do grandes jornais. A simpatia do público com o jornal era tanta que até os censores se tornavam amigos e companheiros de “copo” dos jornalistas na redação, sendo até alguns demitidos do cargo por liberar “coisas demais”.

Tudo corria bem no jornal, até que em 1970 um suposto “surto de gripe” assolou a redação afastando boa parte do corpo que compunha o periódico, causando desfalques em suas colunas. Neste momento, o jornal não podia noticiar a verdade e dizer que, na realidade, seus colaboradores tinham sido presos pelo governo, para que prestassem esclarecimentos. Nessa empreitada o poder militar tinha a intenção de enfraquecer o grupo que fazia parte do jornal, e obviamente o próprio jornal. A desculpa dada dizendo que os afastamentos se derem devido ao surto de gripe não colou, e a prisão dos jornalistas causou grande indignação. Este fato trouxe às edições seguintes do Pasquim contribuições voluntárias de diversas pessoas importantes no cenário atual, como cantores, escritores e compositores.

“Depois da prisão, o Pasquim que era uma escola risonha e franca ficou muito chato. Porque os anunciantes fugiram (fugiram e quando não, eram pressionados a não botar anúncios no jornal), além disso a censura como nunca antes tinha acontecido”. Palavras de Sérgio Cabral, jornalista do Pasquim.

Neste depoimento acima fica claro que o objetivo do exército em enfraquecer o jornal com a prisão de seus componentes vinha alcançando êxito, afinal, um jornal, já naquela época era sustentado por seus anunciantes. A censura corroia não apenas a criatividade e a liberdade de expressão, corroia também na questão econômica. Para salvar 80% do jornal, o conteúdo a ser produzido teria que ser de 360%, e isso custa caro e gera atrasos na distribuição do jornal, o que prejudica a venda nas bancas.

Em todo o tempo, uma das grandes aliadas do Pasquim era a própria censura, pois servia como combustível para o humor e ironias contidas no jornal. Percebendo isso, o exército decide acabar com a censura ao jornal, deixando-o “livre”. Mas a possibilidade de censura era iminente, bem como a temida apreensão nas bancas. Dada esta nova variável, a palavra da vez é a autocensura, que segundo os jornalistas do Pasquim é pior que a censura militar. Um fato curioso, narrado pelo jornalista Sérgio Augusto (do Pasquim), conta que num telefonema de Brasília dado a Jaguar, a redação do jornal era informada do fim da censura. Após o fim da ligação, Jaguar diz: “Estamos f***! Acabou a censura. Como é que agora a gente vai fazer o jornal?".

Segundo Ziraldo, o que realmente “matou” o Pasquim foi um “golpe de mestre da direita”, onde eles começaram colocar bomba nas bancas onde o Pasquim era vendido. Segundo o cartunista, este é o ato de terror mais fácil de praticar, pois não prendia ninguém, não matava o jornaleiro (uma vez que os ataques acontecia à noite), e assim ninguém se feria a não ser o Pasquim, que não seria aceito por tal jornaleiro que tivera sua banca explodida.

O Pasquim ainda sobreviveria por alguns anos, mas sem seus atrativos. Muitos de seus colaboradores deixaram a redação do jornal e foram cuidar de suas vidas, como conta Jaguar, que segue com o jornal por 10 anos, e diz que ficou como “aquele japonês, que a guerra acabou e não avisaram a ele”.

Podemos citar o Pasquim com um combatente. Na guerra pela liberdade, mesmo que levada com humor, graça e irreverência, mortos e feridos existiram. Como um guerreiro kamikaze, o Pasquim conquistou a vitória, pois sua existência só fazia sentido num contexto de guerra em busca pela liberdade de expressão. E quando esta foi ganha, começou o fim do Pasquim.

Um comentário:

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