quarta-feira, 20 de junho de 2012

O PLANETA DIÁRIO

Por Tatiana Gouvêa

Depois de um longo período de ditadura onde as pessoas se manisfestavam apenas nas entrelinhas, ressurge a liberdade de expressão.

Com essa libertade as pessoas passaram a se perguntar, o que fazer com ela? Acostumados a inventar subterfúgios para dizer as coisas, agora. se podia dizer o que pensava ou será que não era bem assim? Será que algum orgão do governo poderia ir atrás da pessoa que falasse algo? O que se pode fazer, afinal? O que não se pode?

Sem as respostas para todas estas questões e na cara-de-pau, surgiu nas bancas em 1984 o jornal "O Planeta Diário" (sim, o mesmo nome do jornal do Superman). Imagine você chegar numa banca e ao lado da Folha de São Paulo, do Estadão, do Jornal da Tarde você se deparar com um jornal com manchetes como "DEPOIS DA CHINA, SARNEY IRÁ À MERDA", "MÉDICI MORRE, MAS PASSA BEM", "VIADOS QUEREM QUE NOVO PRESIDENTE ASSUMA LOGO", "MULHER DE DEPUTADO DÁ À LUZ BEBÊ COM DUAS CABEÇAS E TRÊS EMPREGOS", "CANDIDATOS EPILÉTICOS SE DEBATEM NA TV"...

Sem saber direito onde estavam pisando, os humoristas cariocas Reinaldo, Hubert e o redator Claudio Paiva (hoje "Grande Família") colocaram o jornal com manchetes e matérias absurdas e esdrúxulas nas bancas e se depararam com um sucesso nas mãos.

O jornal durou de 1984 a 1992 mas em 1988 eles foram chamados pela Globo, junto com outros humoristas (como os da revista "Casseta Popular", mas esta é outra história) para escreverem um programa novo chamado "TV Pirata". Quando o TV Pirata acabou, um novo projeto chamado "Dóris para Maiores"(1991) colocou os humoristas à frente das câmeras como "repórteres", formato que eles usam até hoje no programa que sucedeu "Dóris", o "Casseta e Planeta".

O Planeta Diário foi o jornal mais importante da década de 1980, apontou um novo rumo no humor. O Planeta foi uma das poucas idéias que deram certo numa década que chegou ao fim desmoralizada. Em 2007, o livro O Planeta Diário foi lançado e ele é uma ótima pedida para quem curte um humor politicamente incorreto.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Pasquim e seu fim

Por Renan Vargas Vieira

Todo grande fenômeno tem no gráfico de sua trajetória um ápice, um período de melhor êxito naquilo que se propõe a fazer. Mas além desse ápice, existe um momento em que a curva do tal gráfico começa a descer. Com o Pasquim não foi diferente.

O Pasquim viveu grandes momentos, onde a tiragem do jornal alternativo bem humorado chegou a ultrapassar os números do grandes jornais. A simpatia do público com o jornal era tanta que até os censores se tornavam amigos e companheiros de “copo” dos jornalistas na redação, sendo até alguns demitidos do cargo por liberar “coisas demais”.

Tudo corria bem no jornal, até que em 1970 um suposto “surto de gripe” assolou a redação afastando boa parte do corpo que compunha o periódico, causando desfalques em suas colunas. Neste momento, o jornal não podia noticiar a verdade e dizer que, na realidade, seus colaboradores tinham sido presos pelo governo, para que prestassem esclarecimentos. Nessa empreitada o poder militar tinha a intenção de enfraquecer o grupo que fazia parte do jornal, e obviamente o próprio jornal. A desculpa dada dizendo que os afastamentos se derem devido ao surto de gripe não colou, e a prisão dos jornalistas causou grande indignação. Este fato trouxe às edições seguintes do Pasquim contribuições voluntárias de diversas pessoas importantes no cenário atual, como cantores, escritores e compositores.

“Depois da prisão, o Pasquim que era uma escola risonha e franca ficou muito chato. Porque os anunciantes fugiram (fugiram e quando não, eram pressionados a não botar anúncios no jornal), além disso a censura como nunca antes tinha acontecido”. Palavras de Sérgio Cabral, jornalista do Pasquim.

Neste depoimento acima fica claro que o objetivo do exército em enfraquecer o jornal com a prisão de seus componentes vinha alcançando êxito, afinal, um jornal, já naquela época era sustentado por seus anunciantes. A censura corroia não apenas a criatividade e a liberdade de expressão, corroia também na questão econômica. Para salvar 80% do jornal, o conteúdo a ser produzido teria que ser de 360%, e isso custa caro e gera atrasos na distribuição do jornal, o que prejudica a venda nas bancas.

Em todo o tempo, uma das grandes aliadas do Pasquim era a própria censura, pois servia como combustível para o humor e ironias contidas no jornal. Percebendo isso, o exército decide acabar com a censura ao jornal, deixando-o “livre”. Mas a possibilidade de censura era iminente, bem como a temida apreensão nas bancas. Dada esta nova variável, a palavra da vez é a autocensura, que segundo os jornalistas do Pasquim é pior que a censura militar. Um fato curioso, narrado pelo jornalista Sérgio Augusto (do Pasquim), conta que num telefonema de Brasília dado a Jaguar, a redação do jornal era informada do fim da censura. Após o fim da ligação, Jaguar diz: “Estamos f***! Acabou a censura. Como é que agora a gente vai fazer o jornal?".

Segundo Ziraldo, o que realmente “matou” o Pasquim foi um “golpe de mestre da direita”, onde eles começaram colocar bomba nas bancas onde o Pasquim era vendido. Segundo o cartunista, este é o ato de terror mais fácil de praticar, pois não prendia ninguém, não matava o jornaleiro (uma vez que os ataques acontecia à noite), e assim ninguém se feria a não ser o Pasquim, que não seria aceito por tal jornaleiro que tivera sua banca explodida.

O Pasquim ainda sobreviveria por alguns anos, mas sem seus atrativos. Muitos de seus colaboradores deixaram a redação do jornal e foram cuidar de suas vidas, como conta Jaguar, que segue com o jornal por 10 anos, e diz que ficou como “aquele japonês, que a guerra acabou e não avisaram a ele”.

Podemos citar o Pasquim com um combatente. Na guerra pela liberdade, mesmo que levada com humor, graça e irreverência, mortos e feridos existiram. Como um guerreiro kamikaze, o Pasquim conquistou a vitória, pois sua existência só fazia sentido num contexto de guerra em busca pela liberdade de expressão. E quando esta foi ganha, começou o fim do Pasquim.

Décima Sexta edição, o fim do ex-.


Por João Maia e Felipe Exaltação,

Depois de quinze exemplares que foram às ruas, o jornal ex- tinha preparado uma décima sexta edição que prometia dar o que falar, e deu. Sem saber que aquela seria a última edição que iria pras ruas, preparam um exemplar sensacional. Estampando a capa inteira a notícia sobre a morte de Vladimir Herzog, diretor da tv cultura em 1975, que foi encontrado morto enforcado com a própria vestimenta, mas que segundo um consenso na sociedade brasileira que o jornalista foi torturado até a morte e seu corpo foi colocado em uma forca, na tentativa dos militares de forjar um enforcamento.

O ex- de Novembro de 1975 trazia a cobertura completada da morte de Herzog, jornalistas do jornal trabalharam em conjunto arduamente para fechar essa edição. Mesmo a pedidos de jornalistas da própria imprensa alternativa e de pressão da ditadura militar para que esse exemplar não fosse para as ruas, o jornal, por vontade de todos os que o integravam, foi vendido. Anunciantes alegaram ameaças e retiraram seus anúncios, leitores cancelaram assinaturas, era o fim do ex-.

O exemplar ainda contava em sua primeira capa com uma crítica dura ao Pasquim, que segundo Sérgio Buarque de Gusmão, abandonou os princípios de imprensa alternativa, se juntou aos jornais de interesse e deixou de lado tudo o que era proposto em seu começo. O título era forte; “Pau no Pasquim”

Todo esforço dos jornalistas do ex- para colocar nas ruas a cobertura completa não foi em vão, mas acabou se tornando o final de um dos melhores jornais do Brasil. E a última palavra escrita na décima sexta edição foi “criminalísticas”, que combina bem com o crime que foi o fechamento do jornal.